04/06/2021 - Por: Toyota Tsusho Corretora de Seguros
Obesidade Infantil
A importância da obesidade infantil reside no fato que é uma doença que acarreta outras: diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, dislipidemias entre outras. No conjunto são doenças importantes que respondem por boa parte da mortalidade por doenças não transmissíveis no Brasil. Ela é definida como excesso de gordura corporal e não somente como excesso de peso. Atinge 1 em cada 3 crianças de 5 a 9 anos de idade.
Seu diagnóstico é bastante simples, obtido através de medidas antropométricas (peso, altura, circunferências e dobras) analisados de acordo com a idade e sexo. As medidas obtidas são semelhantes ao índice de massa corporal (IMC) mas para crianças algumas adaptações devem ser feitas para a análise do resultado, ou seja, o resultado não é comparável aquelas tabelas de IMC dos adultos. Um profissional qualificado deve fazer as medidas corretamente e utilizar tabelas corretas para o diagnóstico, assim é possível classificar o paciente em algum nível de atenção (risco sobrepeso, sobrepeso e obesidade).
O complemento diagnóstico é feito pela avaliação do excesso de gordura corporal através de exames como bioimpedanciometria, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Esses exames podem ser substituídos pela medida da circunferência abdominal.
Tem causas multifatoriais com interação de fatores genéticos, metabólicos, nutricionais, psicossociais, ambientais e de estilos de vida. A herança genética desempenha um fator importante tanto no peso como na distribuição da gordura corporal, sendo que já foram identificados mais de 400 genes relacionados a obesidade (natureza poligênica da doença). Contudo a epidemia de obesidade em adultos e crianças não pode ser somente explicada por fatores genéticos, mas também por fatores ambientais relacionados ao aumento do sedentarismo e o maior consumo de alimentos calóricos. Existem ainda fatores sociais relacionados ao estilo de vida tais como falta de acesso a ambientes livres para brincadeiras, núcleos familiares menores que alteram o comportamento das crianças, acesso a brinquedos eletrônicos que aumentam o sedentarismo e escolha pela criança de seus alimentos prediletos, entre outros. Também é importante levarmos em conta as diferenças sociais brasileiras ao avaliarmos que nem toda obesidade é ocasionada por acesso a jogos eletrônicos, também pode ser por má nutrição por falta de acesso a alimentos saudáveis.
Possíveis doenças relacionadas
A importância da obesidade infantil reside no fato que ela é um fator de risco para outros tipos de doenças e risco maior de morte na idade adulta.
01 – Doenças Endócrinas
Incluem a intolerância a glicose (prediabetes), a diabetes mellitus, heperandrogenismo em meninas em que há excesso de hormônios masculinos como testosterona, síndrome dos ovários policísticos e anormalidades do crescimento. Não está claramente estabelecido, mas associa-se a obesidade infantil a menarca (primeira menstruação) precoce, aceleração do crescimento (que não significa que a criança ficará mais alta que o esperado), alteração da idade óssea, irregularidade menstrual e hirsutismo (presença de pelos em meninas em locais comuns aos meninos)
02 – Doenças Renais
Aumenta o risco para doenças renais especialmente naqueles acometidos por diabetes mellitus (nefropatia diabética), cálculos renais e alterações estruturais do rim que levam a outras doenças importantes.
03 – Doenças Cardiovasculares
Hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, alterações da estrutura do coração comumente encontradas em adultos e aterosclerose;
04 – Doenças Hepáticas (fígado)
A mais comum é o acúmulo de gordura no fígado que pode levar a hepatite gordurosa que em casos graves pode evoluir para cirrose hepática.
05 – Doenças Pulmonares
Apneia do sono que é a obstrução das vias aéreas superiores durante o sono. Essa obstrução pode ser parcial que acabam levando a hipoventilação durante o sono. Essa hipoventilação tem origem no volume abdominal que dificulta a expansão do pulmão e para seu tratamento há necessidade de perda expressiva do peso. Cronicamente a apneia do sono o hipoventilação leva a problemas de concentração e cansaço crônico que, associado a outras consequências da obesidade impactam muito na qualidade de vida do paciente. Existem ainda evidencias que mostram associação entre a má qualidade do sono e a obesidade.
06 – Ortopédicas
dores musculares e ósseas nas costas e pernas, comprometimento da mobilidade, fraturas e curvamento das pernas resultado do excesso de peso durante a fase de crescimento.
07 – Psicológicos
a doença tem ampla repercussão psicológica em crianças incluindo baixa autoestima, alienação, imagem corporal distorcida, baixo desempenho acadêmico, ansiedade e depressão.
É perceptível a importância do tratamento da obesidade infantil. A leniência dos pais em relação a doença tem sérias consequências a longo prazo para as crianças e para a sociedade. Estima-se que, se a situação persistir, as próximas gerações serão as primeiras a ter expectativa de vida menor que a de seus pais. A avaliação deve ser feita por um profissional capacitado e competente e o tratamento deve ser multidisciplinar coordenado por um único profissional que deve ser o responsável pelo acompanhamento do paciente.
Tratamentos
Dietoterapia
A dietoterapia inclui os seguintes estágios de acordo com a gravidade ou evolução do tratamento:
01 – dieta que inclui aumento de consumo de frutas e vegetais e aumento da atividade física por limitar o acesso a atividades sedentárias (assistir televisão, jogos eletrônicos, computadores e similares)
02 – acompanhamento nutricional especializado (nutricionista) com ingestão de alimentos de baixa calorias através de dietas balanceadas recomendadas pelo profissional. Quanto as atividades físicas recomendam-se pelo menos 60 minutos por dia e restrições maiores de acesso a atividades sedentárias (no máximo 1 hora por dia).
03 – nesse estágio há intensificação do acompanhamento do paciente através de monitoramento contínuo (retornos semanais de acompanhamento por pelo menos 2 meses). Também se inicia o acompanhamento multidisciplinar com uma equipe experiente no acompanhamento de pacientes pediátricos obesos e a inserção maior da família no apoio ao tratamento. Nessa fase inicia-se acompanhamento psicológico.
04 – nesse estágio considera-se o uso de medicamentos e cirurgia.
Alguns pontos importantes acerca desse tratamento – ele deve ser acompanhado por profissionais experientes, deve haver o envolvimento da família no tratamento, sempre avaliar se o tratamento proposto é seguro para a criança e quais são as alternativas para aumentar seu engajamento dando valor as preferências pessoais da criança.
Alguns conceitos práticos da dietoterapia:
- cuidado com a proibição de alimentos calóricos – a melhor estratégia é limitar a quantidade a ser ingerida;
- organizar os horários das refeições e lanches – 05 refeições diárias com 03 horas de intervalos e incentivar o desjejum (café da manha);
- orientar os pais a realizarem as refeições junto com os filhos em tempo adequado sem pressa;
- as refeições devem ser feitas em local tranquilo sem outras distrações, especialmente televisões, jogos ou celulares;
- evitar suco nas refeições, aumentar a ingestão de água;
- diminuir a quantidade de alimentos gordurosos e aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes;
- combater o sedentarismo;
Outros tratamentos são possíveis dependendo da gravidade e da dificuldade ne redução do peso e envolvem medicamentos e até cirurgia. Também as doenças associadas devem ser tratadas. E o acompanhamento da criança deve ser contínuo mesmo após a redução de peso afim de evitar o reganho de peso por falta de acompanhamento.
Fonte: Manual de orientação obesidade infantil e adolescência – Departamento de Nutrologia – Sociedade Brasileira de Pediatria.